segunda-feira, 19 de setembro de 2011

História de Fotografia - Parte V


História da Nikon

No coração da Imagem


A história da NIKON começou a ser contada em 25 de julho de 1917, em Tóquio, quando três gigantes do ramo ótico japonês se fundiram, formando a Nippon Kogahu Kōgyō Kabushikigaisha (Corporação de indústrias ópticas japonesas).

Com a ajuda de técnicos alemães a empresa começou a produzir binóculos, além da realização de pesquisas e desenvolvimento de diversos produtos óticos.

No ano de 1921 foi desenvolvido a prisma binocular chamada de Mikron 4x ou 6x. Quatro anos depois introduziu o microscópio JOICO. O nome Nikkor foi adotado como marca para as lentes fotográficas objetivas produzidas pela empresa em 1932. Depois vieram os telescópios e equipamentos de medidas.

Tendo sido obrigada a paralisar suas atividades durante a Segunda Grande Guerra, voltou com suas a produção em 1945, quando já fabricava câmeras fotográficas, microscópios, binóculos, lentes oftalmológicas, equipamentos de vigilância e instrumentos de precisão e medida.

O nome NIKON foi usado pela primeira vez, em 1946, para uma linha de pequenas câmeras telemétricas de 35mm com lentes destacáveis e permutáveis produzidas pela empresa. O nome deriva da fusão de “Nippon” e “Kōgaku” (“óptica japonesa”) e “Ikon” das famosas lentes fotográficas Zeiss.

         No ano seguinte foi lançada no mercado a “Nikon I” (primeira câmera fotográfica a levar oficialmente a nome NIKON), que em razão da sua superioridade tecnológica, fez com a marca se tornasse sinônimo de excelência em seu segmento.

Nikon I

         No ano de 1959 foi introduzida a Nikon F, primeira câmera da empresa com SLR (single-lens-reflex), que dominou o mercado por quase 15 anos e rapidamente se tornou a preferida de fotógrafos profissionais e amadores mais exigentes.


Nikon F
         
        Na década de 60 e 70, suas câmeras, principalmente as da série F, foram largamente adotadas por muitos profissionais da área de fotojornalismo.

         No início da década de 80, em 1983, a empresa lançou a primeira câmera compacta com foco automático. O nome da empresa foi trocado para Nikon Corporation em 1988.

         O universo das máquinas digitais SLR na história da NIKON começou com a D1, lançada oficialmente em 15 de Junho de 1999, mas só com o aparecimento dos modelos mais acessíveis como as D50, D40 e D70, assistimos a uma massificação deste formato de máquina.
Nikon D1


História da Fotografia - Parte IV

A evolução dos Câmeras fotográficas
   

No séc. XIX, os primeiros aparelhos de tomada de vistas de Niepce, Talbot e Daguerre eram construídos segundo o princípio da câmara escura em uso depois do séc. XVII. Consistiam em duas caixas rectangulares de madeira que corriam uma na outra para realizar a focagem da imagem, com uma abertura para a objectiva e um lugar para a placa fotográfica. 

  

O que se pensa que terá sido o primeiro aparelho comercial, foi concebido por Daguerre e fabricado por Alphonse  Giroux a partir de 1839.

Durante as 4 décadas seguintes surgiram imensos "aparelhos fotográficos",  grandes e pequenos, dos mais simples aos mais complexos, como aparelhos de tomadas de vistas panorâmicas ou estereoscópicas.

A primeira câmara de duas objectivas, com lentes interligadas de foco simultâneo foi fabricada a partir de 1880 por R. & J. Beck.

Em 1882, o inglês George Hare construiu um protótipo de uma câmara de fole que permitia passar do formato horizontal para o vertical.

 

Seguem-se anos de aperfeiçoamento e inovações nas "câmaras fotográficas", que muito dependeram também da evolução dos "filmes" fotográficos e das lentes que constituíam as objetivas. Neste campo é de realçar o contributo das fábricas de vidro da região de Jena na Alemanha, que construiram objetivas mais rápidas e que reduziam as distorções, e ainda visores para as câmaras, que as firmas alemãs Carl Zeiss e Carl Goerz comercializaram a partir de 1890.

Também no fim da década de 80, começaram a surgir incluídos nas objectivas dispositivos constituídos por lamelas metálicas, chamados "obturadores de diafragma". Note-se que nos primeiros tempos da fotografia, a exposição realizava-se tirando manualmente a tampa da objectiva e contando o tempo tido como necessário para a mesma, tempo esse determinado a partir da experiência. Ainda hoje podemos ver câmaras a funcionar assim nos velhos fotógrafos ambulantes que andam pelas romarias e festas tradicionais do nosso país.

Fotógrafo de rua
    
Em 1888, S. McKellen registou a patente da primeira máquina "reflex" em que o espelho se deslocava automaticamente durante a exposição, pois estava ligado a um obturador de cortina.

A primeira câmara de grande divulgação, a Kodak produzida por George Eastman nos EUA, a partir de 1888, continha um rolo de filme com 6,35 cm de largura com o qual se obtiam cem exposições em forma de círculo. Quando o filme acabava a câmara tinha de ser devolvida ao fabricante onde era aberta e se fazia a revelação do filme e a positivação. Seguidamente era recarregada, lacrada e devolvida ao cliente

Inicialmente o filme usado era sensibilizado em papel, mas em 1889, Eastman introduziu o primeiro filme sensibilizado em película transparente.

Publicidade da Kodak - 1889

Em 1895, Eastmen introduziu no mercado uma câmara menor (media 10 cm de altura), chamada Pocket Kodak, que foi a primeira câmara produzida em massa. Só no primeiro ano venderam-se 100.000 unidades, o que era notável para a época.

Em 1900 a Eastman Kodak  lançou a Brownie, talvez a máquina fotográfica mais célebre na história, pois tornou a fotografia um meio de registo ao alcance todo mundo. A Brownie proporcionava fotografias de qualidade (para a época), no formato 6x6 cm, sobre rolo de filme em cassete.

Kodak Brownie - 1900-1901
Desde o início do séc. XX a evolução das máquinas fez-se mais pelo refinamento e aperfeiçoamento do que por grandes invenções.

Destacaram-se nessa evolução a Linhof de 1910, câmara profissional de alta qualidade, e a  Vest Pocket Autographic Kodak de 1915, entre muitas outras câmaras portáteis de utilização amadora da Kodak.

Em 1924 surgiu a Ermanox, câmara lindíssima, com uma única chapa fotosensível e com uma objectiva de f2, muito luminosa para a época.
Ermanox - 1924
     O formato 35 mm (negativos de 24x36 mm) já era usado nas películas cinematográficas e foi aplicado na fotografia em 1921 na  câmara Debrie Sept, contruída por A. Debrie em 1921, em França, depois de tentativas anteriores realizadas em protótipos por vários fabricantes.

Em 1925 surge a Leica de 35mm, com objectiva f 1.9, que foi a precursora das actuais máquinas de 35mm não reflex, ou seja de visor directo, câmara usada por muitos fotógrafos, dos quais o maior exemplo terá sido Henri Cartier-Bresson.

Leica - 1925

Em 1928 a  Rolleiflex TLR (uma reflex com duas objectivas gémeas - TLR - "Twin-Lens Reflex"), é colocada no mercado e revela-se desde logo como uma excelente câmara de estúdio.


Rolleiflex de objectivas gémeas - 1928
A primeira reflex SLR ("single-lens reflex" - reflex mono-objectiva) surge na década de 30. Até lá, os modelos SLR (ainda) não 35 mm, mais populares foram as russas  Exakta Vest Pocket, tendo sido criada em 1936 uma versão 35 mm, que foi provavelmente a primeira câmara 35 mm SLR.

Até à 2ª Guerra Mundial a maioria das câmaras utilizou filme em rolo - desde as mais básicas do tipo "caixote" até às Rolleiflex. As câmaras de 35 mm não eram muito divulgadas, sobretudo por causa do reduzido tamanho das provas de contacto feitas a partir dos negativos de 24x36 mm e também da fraca qualidade das objectivas nas máquinas mais baratas.

Em 1948 Edwin H. Land introduziu uma das câmaras mais importantes para a fotografia de amador, a Polaroid, que permitia  a realização de fotografias instantâneas (estas eram sensibilizadas e reveladas dentro do próprio aparelho). Apesar das constantes evoluções as imagens instantâneas sempre foram de fraca definição/qualidade.

Polaroid - Edwin Land - 1948

Os melhoramentos introduzidos nas ópticas das objectivas e a produção em massa de máquinas reflex SLR de grande precisão, a partir das décadas de 50 e 60, com a entrada dos japoneses no mercado mundial, iniciada pela Nikon em 1948,, tornaram as 35 mm SLR o modelo mais versátil e popular em todo o mundo, sendo particularmente usadas por foto-jornalistas e amadores avisados.


Nikon I - começou a ser produzida em 1948


História da Fotografia - Parte III

A fotografia em cores

   
    Um dos "problemas" iniciais da fotografia (em preto e branco) era a sua sensibilidade às cores, ou seja, o modo como a cor do tema ao fotografar era "descodificado" na escala que vai do branco ao preto passando pela gama de cinzento.

Desde a década de 40 do Séc. XIX já existia a preocupação em melhorar a sensibilidade às cores dos filmes preto e branco. 


Em 1873 Hermann W. Vogel, foto-químico alemão, descobriu do processo de sensibilizar o brometo de prata às radiações verdes e amarelas e em 1884, também às cor de laranja e vermelhas. Este processo, denominado sensibilização óptica, deu origem em 1873 às primeiras placas ortocromáticas (sensíveis a todas as radiações, excepto ao vermelho e hipersensíveis à radiação azul).

Ficaram assim lançadas as bases para a realização da fotografia a cores.

James Clerk Maxwell - 1861. Esta é considerada a primeira a cores.

    Em 1869 Louis Ducos du Hauron editou um livro chamado "As cores em Fotografia", em que teorizava que a partir da teoria da síntese aditiva das cores se poderia chegar à fotografia colorida. Este processo seria constituído por uma trama de finas linhas de cores primárias que separadas correctamente das complementares, originariam todas as cores da natureza. No entanto, até à invenção do filme pancromático (sensível a todas as cores) no início do séc. XX, as placas utilizadas nessas experiências não eram sensíveis a toda a banda do espectro de radiação, pelo que as tentativas não tiveram sucesso.

Ducus du Hauron - 1872
   
Em 1894 o irlandês John Joly realizou uma trama semelhante à de Ducos du Hauron, mas sobre uma placa de vidro coberta de gelatina. A falta de sensibilidade das placas utilizadas ainda não permitiu fotografias com grande definição.

O primeiro material a cores comercialmente realizável fundado neste princípio, uma placa de cores denominada autochrome, foi inventado em França pelos irmãos Lumiére ("inventores" do cinematógrafo). As placas autochrome  em vidro apresentavam uma trama selectiva composta por minúsculos grãos de amido de batata com as três cores primárias, coberta com uma camada muito fina de pó negro para preencher os interstícios que pudessem deixar passar a luz. Sobre esta trama, era colocada uma camada de emulsão pancromática de brometo de prata. O resultado era um positivo transparente que teve sucesso imediato devido à melhor sensibilidade à cor e à sua relativa facilidade de revelação.

Apesar destes melhoramentos, as pesquisas de outros processos coloridos continuaram, pois a reprodução da cor ainda era pouco natural.

Louis Lumiére - 1907
  
As teorias de Ducos du Hauron deram assim origem a processos de subtração de cores. As experiências baseadas nesta teoria levaram à construção de um aparelho que obtivesse três negativos a cores, assim como ao melhoramento dos processos de sobreposição de três positivos complementares. Frederick Ives contribuiu de um modo importante para estas experiências, com a invenção de uma máquina Tripak  que foi comercializada em 1914 com o nome de Hicro Universal.

Frederick Ives - 1892 - Câmara Tripak

Em 1935 a Eastman-Kodak lança o Kodachrome, que foi o primeiro filme Tripak comercializado, primeiro como película para cinema, em 1938 sob a forma de filme plano (diapositivo) e em 1941 em filme negativo Kodacolor.

Em 1946 a mesma Eastman-Kodak comercializa o Ektachrome, filme a cores cuja particularidade era que podia ser revelado por qualquer pessoa em câmara escura.

Kodachrome - Original 1936


História da Fotografia – Parte II

A química na Fotografia

No séc. XVIII, realizam-se as primeiras experiências com substâncias químicas capazes de registar as imagens produzidas na câmara escura, sem ter que desenhá-las à mão. Passa-se, assim, ao estudo da propriedade de algumas substâncias enegreceram com a luz. Os primeiros elementos a serem testados foram os sais de prata: cloretos, iodetos e brometos.
   
Em 1604, o cientista italiano Angelo Sala, observou que certo composto de prata se escurecia quando exposto ao sol. Acreditava-se que o calor era o responsável.

Em 1727, o professor de anatomia da universidade de Altdorf, Johann Schulze, notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso se escurecia quando exposto à luz proveniente de uma janela. Por eliminação, ele demonstrou que os cristais de prata halógena, ao receberem luz, e não o calor como se supunha, se transformavam em prata metálica negra. Como suas observações foram acidentais e não tinham utilidade prática na época, Schulze cedeu suas descobertas à Academia Imperial de Nuremberg.

No ano de 1777, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele constatou que o cloreto de prata, não submetido à ação da luz, se dissolvia no amoníaco. Esta descoberta será utilizada posteriormente para tornar permanentes as imagens fotográficas de modo a que estas pudessem ser visionadas com luz (as primeiras experiências fotográficas tinham que ser conservadas em locais com muito pouca luz para impedir o seu escurecimento com a acção da luz).
   
Em 1802 o inglês Thomas Wedgwood, associado ao químico Humphry Davy, ensaiou a reprodução de imagens sobre couro e papel embebidos numa solução de nitrato de prata. As suas experiências demonstraram que era possível obter quimicamente através da luz, não somente imagens indefinidas, mas também o contorno de objetos como folhas de árvore e tecidos. No entanto não descobriram ainda o método de parar a ação da luz sobre os sais de prata. A menos que fossem guardadas na escuridão total, as imagens apagavam-se completamente.
   
No início do séc. XIX, a burguesia culta de Inglaterra e França interessou-se pelas aplicações práticas das novas descobertas científicas. Nesta altura, em locais diferentes e sem terem conhecimento uns dos outros, foram muitos os investigadores que procuravam o método de obter fotografias.

Um dos mais interessados nessas pesquisas, foi o litógrafo e inventor francês Nicéphore Niépce, que com o seu irmão Claude já tinha conseguido em 1816 realizar uma imagem em câmara escura utilizando papel sensibilizado com cloreto de prata. Mas os tons ficavam invertidos e as suas buscas para sensibilizar provas positivas só resultaram em 1826 quando Nicéphore Niépce usou uma substância à base de verniz de asfalto (betume da judeia) que aplicada sobre vidro, endurecia e associada a uma mistura de óleos fixava a imagem.

Em 1827 Niépce expôs uma placa de estanho coberta de betume da judeia na câmara escura e obteve, depois de uma exposição de oito horas, uma imagem de um pombal, que era a vista da janela da sua sala de trabalho.

 N. Niépce - Vista da janela em Gras - 1827

Apesar dessa imagem ser muito rudimentar e não possuir meios tons, todas as autoridades na matéria a consideram a primeira fotografia permanente do mundo. Esse processo foi batizado por Niépce de "HELIOGRAFIA", gravura com a luz solar.

Mas o sistema heliográfico ainda não era o adequado para a fotografia pois não reduzia a duração da exposição necessária à obtenção de imagens. Em 1827 Niépce associa-se a Louis Daguerre e os dois prosseguiram as suas investigações em comum.

Louis Jacques Mandé Daguerre
Dois anos após a morte de Niépce, Daguerre descobriu, de forma acidental, que uma imagem quase invisível, latente, podia revelar-se com o vapor de mercúrio, reduzindo-se assim de horas para minutos o tempo de exposição.

Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa sub-exposta dentro de um armário onde havia um termômetro de mercúrio que se quebrara. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Em todas as áreas atingidas pela luz o mercúrio criava um amálgama de grande brilho, formando as áreas claras da imagem.

Mas faltava saber como parar a ação da luz sobre a prata, o que provocava o escurecimento da imagem até ao seu desaparecimento. Em 1837 Daguerre descobriu um processo para interromper a acção da luz, com um banho de cloreto de sódio (sal de cozinha). Data desse ano aquela que é considerada a primeira fotografia batizada de “daguerreotipo”.

Daguerre - Natureza morta - 1837
       Os primeiros daguerreótipos eram de má qualidade pois eram facilmente estragados pelos dedos e pelas variações de temperatura e humidade. A imagem tinha pouco contraste tonal, não se prestava à multiplicação e o tempo de exposição era longo, variando entre quinze segundos e trinta minutos.

Através do amigo François Arago, que era então membro da câmara e deputados da França, Daguerre, em 1839, na Academia de Ciências e Belas Artes, descreveu minuciosamente seu processo ao mundo em troca de uma pensão estatal. Mas, dias antes, por intermédio de um agente, Daguerre requereu a patente de seu invento na Inglaterra.

Rapidamente, os grandes centros urbanos da época ficaram repletos de daguerreótipos, a ponto de vários pintores figurativos, como Dellaroche, exclamarem em desespero: "A pintura morreu". Como sabemos, foi nessa efervescência cultural que foi gerado o impressionismo.

Apesar do êxito da daguerreotipia, que se popularizou por mais de vinte anos, sua fragilidade, a dificuldade de se ver a cena devido à reflexão do fundo polido do cobre e a impossibilidade de se fazer várias cópias partindo-se do mesmo original, motivaram novas tentativas com a utilização da fotografia sobre o papel.

A sua famosa fotografia "Paris Boulevard" de 1839, mostra uma rua de Paris que parece deserta. Esta sensação deve-se à sua longa exposição (cerca de 20 minutos), o que fez que tudo o que se movesse não ficasse registado na imagem. Vê-se uma única pessoa, com um pé pousado num fontanário, que era um amigo do fotógrafo, que permaneceu imóvel durante o tempo da exposição. Pensa-se que será a primeira pessoa a ser "fotografada".

Daguerre - Paris Boulevard - 1839
  
O francês Hercules Florence, aplicou-se a uma série de invenções durante os 55 anos em que viveu no Brasil até sua morte, na Vila de São Carlos (Campinas).

Em 1830, diante de um pedido de uma oficina de impressões, inventou seu próprio meio de impressão, a POLYGRAPHIE, como ele a chamou. Seguindo a meta de um sistema de reprodução, pesquisou a possibilidade de se reproduzir usando a luz do sol e descobriu um processo fotográfico que chamou de PHOTOGRAPHIE, em 1832, como descreveu em seus diários da época, anos antes de Daguerre. Em 1833, Florence fotografou através da câmara escura com uma chapa de vidro e usou um papel sensibilizado para a impressão por contato.

Enfim, totalmente isolado e sem conhecimento do que realizavam seus contemporâneos europeus Niépce, Daguerre e Talbot; Florence obteve ótimos resultados fotográficos.

Um Talbotipo - Os Jogadores de xadrez, por Talbot 

    Na Inglaterra, um descendente de família nobre, membro do parlamento britânico, escritor e cientista aficionado, William Henry Fox Talbot, usava a câmara escura para desenhos em suas viagens. Na intenção de fugir da patente do daguerreótipo em seu país e solucionar suas limitações técnicas, pesquisava uma forma de impressionar quimicamente o papel.

Talbot iniciou suas pesquisas fotográficas tentando obter cópias por contato de silhuetas de folhas, plumas, rendas e outros objetos.

O papel era mergulhado em nitrato e cloreto de prata e depois de seco fazia seu contato com os objetos, obtendo-se uma silhueta escura. Finalmente, o papel era fixado, de modo imperfeito, com amoníaco, ou com uma solução concentrada de sal. Às vezes, também era usado o idodeto de potássio.

No ano de 1835, Talbot construiu uma pequena câmara de madeira, com somente 6,30 cm2, que sua esposa chamava de "ratoeira". A câmara foi carregada com papel de cloreto de prata e, de acordo com a objetiva utilizada, era necessária de meia a uma hora de exposição. A imagem negativa era fixada em sal de cozinha e submetida a um contato com outro papel sensível. Desse modo, a cópia apresentava-se positiva, sem a inversão lateral. A mais conhecida nos mostra a janela da biblioteca da abadia de Locock Abbey, considerada a primeira fotografia obtida pelo processo negativo/positivo.


1835  -  impressão da "janela abadia de Locock Abbey" feita a partir  do negativo (abaixo)

Negativo produzido por Talbot


As imagens de Talbot eram bastante pobres, devido ao seu reduzido tamanho de 2,5 cm2, se comparadas com a Heliografia de Nièpce, de 20,3 x 60,5 cm, obtida nove anos antes. Sua lentidão, seu tamanho, e sua incapacidade de registrar detalhes não causavam interesse ao público, em comparação aos daguerreótipos.

Em 1839, quando chegaram à Inglaterra os rumores do invento de Daguerre, Talbot tinha aprimorado suas pesquisas e precipitadamente publicou seu trabalho e o apresentou à Royal Institution e à Royal Society. Sir Herchel logo concluiu que o Tiossulfato de sódio seria um fixador eficaz e sugeriu os termos: FOTOGRAFIA, NEGATIVO E POSITIVO.

Um ano depois, o material sensível foi substituído por iodeto de prata, sendo submetido, após a exposição, a uma revelação com ácido gálico. Mas para as cópias continuou a usar o papel de cloreto de prata. O processo, que inicialmente foi batizado de CALOTIPIA, ficou conhecido como TALBOTIPIA e foi patenteado na Inglaterra em 1841. Talbot comprou uma casa em Reading, contratou uma equipe para produzir cópias, fotografou várias paisagens turísticas e comercializava as cópias em quiosques e tendas artísticas em toda a Grã-Bratanha.

"THE PENCIL OF NATURE", o primeiro livro do mundo ilustrado com fotografias, foi publicado por Talbot em 1844. O livro foi editado em seis grandes volumes com um total de 24 talbotipos originais e continha a explicação detalhada de seus trabalhos, estabelecendo certos padrões de qualidade para a imagem.

"THE PENCIL OF NATURE" - William Henry Fox Talbot

Como o negativo da talbotipia não era constituído de um papel de boa qualidade como base de sensibilização, na passagem para o positivo se perdiam muitos detalhes devido à fibrosidade do papel. Muitos fotógrafos pensavam em melhorar a qualidade da cópia, utilizando como base o vidro.

A dificuldade em usar o vidro como base do negativo era a de se encontrar algo que contivesse, numa massa uniforme, os sais de prata sensíveis à luz, para que não se dissolvessem durante a revelação.

Abel Niépce de Saint-Victor, primo de Nicéphore Niépce, descobriu em 1847 que a clara do ovo, ou a albumina, era uma solução adequada no caso de iodeto de prata. Uma placa de vidro era coberta com clara de ovo, sensibilizada com iodeto de potássio, submetida a uma solução ácida de nitrato de prata, revelada com ácido gálico e finalmente fixada no tiossulfato de sódio.

O método da albumina proporcionava uma grande precisão de detalhes mas requeria uma exposição de 15 minutos aproximadamente. Sua preparação era bastante complexa e as placas podiam ser guardadas durante 15 dias.

O ano de 1851 foi muito significativo para a fotografia. Na França, morreu Daguerre. Na Grã-Bretanha, como fruto da Revolução Industrial, foi organizada a "Grande Exposição", apresentando os últimos modelos produzidos.

Um invento que em pouco tempo chegou a suplantar todos os métodos existentes foi o processo do COLÓDIO ÚMIDO, de Frederick Scott Archer, publicado no "The Chemist" em seu número de março. Esse obscuro escultor londrino, com grande interesse pela fotografia, não estava satisfeito com a qualidade da imagem, deteriorada pela textura fibrosa dos papéis negativos, e sugeriu uma mistura de algodão de pólvora e éter, chamada colódio, como um meio de unir os sais de prata nas placas de vidro. O processo consistia em:

a) Espalhar cuidadosamente o colódio com iodeto de potássio sobre o vidro, escorrendo até formar uma superfície uniforme.
b) No quarto escuro, com luz alaranjada, a placa era submetida a um banho de nitrato de prata.
c) A placa era exposta na câmara escura ainda úmida, porque a sensibilidade diminuía rapidamente à medida que o colódio secava. O tempo médio de exposição ao sol era de 30 segundos.
d) Antes que o éter, que se evaporava rapidamente, secasse, tornando-se impermeável, revelava-se com ácido pirogálico ou com sulfato ferroso.
e) A fixagem era feita com tiossulfato de sódio ou com cianeto de potássio (venenoso), e finalmente lavava-se bem o negativo.

O colódio, além de muito transparente, permitia uma concentração de sais de prata, fazendo com que as placas fossem 10 vezes mais sensíveis que as de albumina. Seu único inconveniente era a necessidade de sensibilizar, expor e revelar a chapa num curto espaço de tempo. Como Archer não teve interesse em patentear seu processo, morrendo na miséria e quase desconhecido, os fotógrafos ingleses podiam pela primeira vez praticar a fotografia sem preocupação com problemas legais (patente).

Talbot, acreditando que sua patente cobria o processo colódio, levou ao tribunal um fotógrafo que utilizava a placa úmida em Oxford Street. O juiz pôs em dúvida o direito de Talbot de reclamar da invenção do colódio e os jurados decidiram que esta não infringia sua patente. Então a fotografia estava livre, pois além disso a patente de Daguerre havia expirado em 1853. A fotografia agora tinha condições de crescer em popularidade e a quantidade de aplicações do colódio cresceu durante 30 anos. O número de retratistas aumentou consideravelmente, pessoas de todas as classes sociais desejavam retratos e se estendeu o uso de uma adaptação barata do processo colódio chamada AMBROTIPO.

A variante Ambrotipia, elaborada por Archer com a coloração de Peter Wickens Fry, consistia em um positivo direto obtido com a chapa de colódio. Branqueava-se um negativo de colódio sub-exposto, escurecia-se o dorso com um tecido preto ou um verniz escuro, dando assim a impressão de um positivo. Quando um negativo é colocado sobre um fundo escuro com o lado da emulsão para cima, surge uma imagem positiva graças à grande reflexão de luz da prata metálica. Dessa maneira o negativo não podia mais ser copiado, mas representava uma economia de tempo e dinheiro, pois se eliminava as etapas de obtenção da cópia. O nome Ambrótipo foi sugerido por Marcos A. Root, um daguerrotipista da Filadélfia, sendo também usado este nome na Inglaterra. Na Europa era geralmente chamado Melainotipo. Os retratos pequenos, feitos através deste processo, foram muito difundidos nos anos cinqüenta até serem superados pela moda das fotografias tipo "carte-de-visite".

Outra variação do processo colódio, o chamado Ferrótipo, ou Tintipo, produzia uma fotografia acabada em menos tempo que o Ambrótipo. Há divergências entre autores quanto ao criador do processo; para uns, o Ferrótipo foi elaborado por Adolphe Alexandre Martin, um mestre francês, em 1853. Para outros, foi Hanníbal L. Smith, um professor de química da universidade de Kenyon, quem introduziu o processo. Este processo era constituído por um negativo de chapa úmida de colódio com um fundo escuro para a formação do positivo. Mas, ao invés de usar verniz ou um pano escuro, era utilizada uma folha de metal esmaltada de preto ou marrom escuro, como suporte do colódio. O baixo custo era devido aos materiais empregados e sua rapidez decorria das novas soluções de processamento químico.

O Ferrótipo desfrutou de grande popularidade entre os fotógrafos nos Estados Unidos a partir de 1860, quando começaram a aparecer os especialistas fazendo fotos de crianças em praças públicas, famílias em piqueniques e recém casados em porta de igrejas.

O inconveniente de todos os processos por colódio era a utilização obrigatória de placas ainda úmidas. Idealizou-se várias maneiras de conservar o colódio em estado pegajoso e sensível durante dias e semanas, de forma que toda manipulação química pudesse ser realizada no laboratório do fotógrafo em sua casa, mas logo apareceu um processo "seco" que substituiu rapidamente o colódio: a gelatina.

Em setembro de 1871, um médico e microscopista Inglês, Richard Lear Maddox, publicou no British Journal of Photography suas experiências com uma emulsão de gelatina e brometo de prata como substituto para o colódio. O resultado era uma chapa 180 vezes mais lenta que o processo úmido, mas com o novo processo aperfeiçoado e acelerado por John Burgess, Richard Kennett e Charles Benett, a placa seca de gelatina estabelecia a era moderna do material fotográfico fabricado comercialmente, liberando o fotógrafo da necessidade de preparar as suas placas. Rapidamente várias firmas passaram a fabricar placas de gelatina seca em quantidades industriais.

Burgess comercializou a emulsão de brometo de prata e gelatina engarrafada, mas os resultados não foram satisfatórios devido à presença de sub-produtos tais como nitrato de potássio. Em 1873, Kennett vendia emulsões secas e placas preparadas com bastante sensibilidade à luz. Em 1878, Bennett publicou que conservando a emulsão a 32oC de quatro a sete dias, se produzia uma "maturação" que aumentava a sensibilidade.

Fabricantes britânicos como a Wratten & Wainwrigth e The Liverpool Dry Plate Co., em 1880, monopolizaram a fabricação de placas secas. Logo fábricas em todos os países passaram a imitá-los, até que em 1883 quase nenhum fotógrafo usava o material colódio.

Em abril de 1880, George Eastman alugou o terceiro andar de um edifício de Rochester e começou a fabricar placas secas para venda. Nascia ali a Kodak.

Eastman se dedicou ao desenvolvimento de novos produtos para simplificar a fotografia. Procurava encontrar uma base mais leve e flexível que o vidro. Primero usou papel para o suporte da emulsão; o rolo de papel estava protegido em um "porta-rolo" e se usava nas câmaras da mesma forma como as "porta-placas" de vidro.

Em 1885 anunciava que estava introduzindo uma nova película sensível que seria um substituto econômico e conveniente para as placas de vidro, tanto para tomadas internas quanto externas. Apesar do sistema de porta-rolos ser adequado e ter um êxito inicial, o papel não era inteiramente satisfatório como suporte da emulsão porque a granulação do papel se reproduzia na cópia.

Eastman substituiu o papel pela película de colódio mas não conseguiu fabricar uma que fosse suficientemente forte para sustentar a emulsão. Então decidiu cobrir o papel com uma camada de galatina comum solúvel e em seguida com outra insolúvel, sensível à luz. Depois de exposta e revelada, a gelatina com a imagem se soltava do papel, se transferia a uma folha de gelatina clara e se envernizava como colódio.

Para chegar ao público, Eastman decidiu fabricar um novo tipo de câmara. Esta, introduzida em 1888, foi a primeira câmara Kodak. Era do tipo "caixão", leve e pequena, carregada com um rolo de papel para 100 exposições. O preço da câmara carregada, estojo e correia era de 25 dólares. Uma vez feita a exposição, se enviava a câmara a Rochester, onde o rolo exposto era retirado, processado, feitas as cópias e colocado um novo rolo, tudo por 10 dólares. Isto foi uma mudança radical na política da empresa.

A câmara Kodak havia criado um mercado completamente novo e transformado em fotógrafos aqueles que só queriam tirar fotos e não tinham nenhum conhecimento da matéria. Qualquer um podia "apertar o botão" e a companhia do Sr. Eastman "fazia o resto".

Em agosto de 1889 saíram para venda os primeiros rolos de película transparente. No início era fabricada estendendo uma solução de nitrocelulose sobre uma mesa de vidro de 66 metros de comprimento e 1.06 metros de largura. Uma vez seca, se cobria com substrato de silicato de soda para reter a emulsão e logo se revestia com uma emulsão de gelatina. A nova película era transparente e sem grandes granulações e podia servir de base permanente para a imagem negativa, evitando-se a descolagem. Além disso, era possível produzi-la em tiras de 66 metros de comprimento. Esta película transparente e flexível de Eastman, junto com o aparelho desenhado simultaneamente por Edison, asseguraram o êxito da cinematografia.

Em 1891 se melhorou ainda mais a película transparente para amadores ao colocá-la em carretéis que podiam ser colocados na câmara em plena luz do dia. A câmara não precisava mais ser enviada a Rochester para ser recarregada e os rolos de filme podiam ser comprados praticamente em qualquer lugar.

As câmaras para a nova película se simplificaram ainda mais. A câmara Kodak dobrável, de bolso, foi lançado no mercado em 1898; um fole permitia que se recolhesse a lente. Em 1900 apareceu a primeira câmara Brownie, para crianças, ao preço de um dólar.

O desenvolvimento da fotografia com rolos de película criou uma situação muito diferente daquela até então existente. Antes da aparição das câmaras Kodak e Brownie, o fotógrafo devia ter certa habilidade manual, pois devia processar seus próprios negativos e fazer as impressões e, por conseguinte, estava interessado nos aspectos técnicos. Os novos fotógrafos usavam câmaras simples, para filmes em rolo, sem ter que preocupar com a técnica fotográfica ou com o mecanismo dos equipamentos. Só tinham que fotografar os motivos de seu agrado. A fabricação de filme se converteu em uma operação industrial e o fotoacabamento era feito por milhares de pequenos laboratórios que revelavam o filme e faziam as cópias para os fotógrafos.