História da
Fotografia – Parte II
A química na Fotografia
No séc. XVIII, realizam-se as primeiras experiências com substâncias
químicas capazes de registar as imagens produzidas na câmara escura, sem ter que desenhá-las à mão. Passa-se, assim, ao estudo da propriedade de
algumas substâncias enegreceram com a luz. Os primeiros elementos a serem testados foram
os sais de prata: cloretos, iodetos e brometos.
Em 1604, o cientista italiano Angelo Sala, observou que certo
composto de prata se escurecia quando exposto ao sol. Acreditava-se que o calor
era o responsável.
Em 1727, o professor de anatomia da universidade de Altdorf, Johann Schulze, notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso
se escurecia quando exposto à luz proveniente de uma janela. Por eliminação,
ele demonstrou que os cristais de prata halógena, ao receberem luz, e não o
calor como se supunha, se transformavam em prata metálica negra. Como suas
observações foram acidentais e não tinham utilidade prática na época, Schulze
cedeu suas descobertas à Academia Imperial de Nuremberg.
No ano de 1777, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele constatou que o cloreto
de prata, não submetido à ação da luz, se dissolvia no amoníaco. Esta
descoberta será utilizada posteriormente para tornar permanentes as imagens
fotográficas de modo a que estas pudessem ser visionadas com luz (as primeiras
experiências fotográficas tinham que ser conservadas em locais com muito pouca
luz para impedir o seu escurecimento com a acção da luz).
Em 1802 o inglês Thomas Wedgwood, associado ao químico Humphry Davy,
ensaiou a reprodução de imagens sobre couro e papel embebidos numa solução de
nitrato de prata. As suas experiências demonstraram que era possível obter
quimicamente através da luz, não somente imagens indefinidas, mas também o
contorno de objetos como folhas de árvore e tecidos. No entanto não descobriram
ainda o método de parar a ação da luz sobre os sais de prata. A menos que
fossem guardadas na escuridão total, as imagens apagavam-se completamente.
No início do séc. XIX, a burguesia culta de Inglaterra e França
interessou-se pelas aplicações práticas das novas descobertas científicas.
Nesta altura, em locais diferentes e sem terem conhecimento uns dos outros,
foram muitos os investigadores que procuravam o método de obter fotografias.
Um dos mais interessados nessas pesquisas, foi o litógrafo e
inventor francês Nicéphore Niépce, que com o seu irmão Claude já tinha conseguido
em 1816 realizar uma imagem em câmara escura utilizando papel sensibilizado com
cloreto de prata. Mas os tons ficavam invertidos e as suas buscas para
sensibilizar provas positivas só resultaram em 1826 quando Nicéphore Niépce
usou uma substância à base de verniz de asfalto (betume da judeia) que aplicada
sobre vidro, endurecia e associada a uma mistura de óleos fixava a imagem.
Em 1827 Niépce expôs uma placa de estanho coberta de betume da
judeia na câmara escura e obteve, depois de uma exposição de oito horas, uma
imagem de um pombal, que era a vista da janela da sua sala de
trabalho.
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N. Niépce - Vista da janela em Gras - 1827 |
Apesar dessa imagem ser muito rudimentar e não possuir meios tons,
todas as autoridades na matéria a consideram a primeira fotografia permanente
do mundo. Esse processo foi batizado por Niépce de "HELIOGRAFIA",
gravura com a luz solar.
Mas o sistema heliográfico ainda não era o adequado para a
fotografia pois não reduzia a duração da exposição necessária à obtenção de
imagens. Em 1827 Niépce associa-se a Louis Daguerre e os dois prosseguiram as
suas investigações em comum.
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Louis Jacques Mandé Daguerre |
Dois anos após a morte de Niépce, Daguerre descobriu, de forma acidental, que uma imagem
quase invisível, latente, podia revelar-se com o vapor de mercúrio,
reduzindo-se assim de horas para minutos o tempo de exposição.
Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa
sub-exposta dentro de um armário onde havia um termômetro de mercúrio que se
quebrara. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia
adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Em
todas as áreas atingidas pela luz o mercúrio criava um amálgama de grande
brilho, formando as áreas claras da imagem.
Mas faltava saber como parar a ação da luz sobre a prata, o que
provocava o escurecimento da imagem até ao seu desaparecimento. Em 1837
Daguerre descobriu um processo para interromper a acção da luz, com um banho de
cloreto de sódio (sal de cozinha). Data desse ano aquela que é considerada a
primeira fotografia batizada de “daguerreotipo”.
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Daguerre - Natureza morta - 1837 |
Os primeiros daguerreótipos eram de má qualidade pois eram facilmente
estragados pelos dedos e pelas variações de temperatura e humidade. A imagem
tinha pouco contraste tonal, não se prestava à multiplicação e o tempo de
exposição era longo, variando entre quinze segundos e trinta minutos.
Através do amigo François Arago, que era então membro da câmara e deputados
da França, Daguerre, em 1839, na Academia de Ciências e Belas Artes, descreveu
minuciosamente seu processo ao mundo em troca de uma pensão estatal. Mas, dias
antes, por intermédio de um agente, Daguerre requereu a patente de seu invento
na Inglaterra.
Rapidamente, os grandes centros urbanos da época ficaram repletos de
daguerreótipos, a ponto de vários pintores figurativos, como Dellaroche,
exclamarem em desespero: "A pintura morreu". Como sabemos, foi nessa
efervescência cultural que foi gerado o impressionismo.
Apesar do êxito da daguerreotipia, que se popularizou por mais de
vinte anos, sua fragilidade, a dificuldade de se ver a cena devido à reflexão
do fundo polido do cobre e a impossibilidade de se fazer várias cópias
partindo-se do mesmo original, motivaram novas tentativas com a utilização da
fotografia sobre o papel.
A sua famosa fotografia "Paris Boulevard" de 1839, mostra uma rua de Paris que parece deserta. Esta sensação deve-se à
sua longa exposição (cerca de 20 minutos), o que fez que tudo o que se movesse
não ficasse registado na imagem. Vê-se uma única pessoa, com um pé pousado num
fontanário, que era um amigo do fotógrafo, que permaneceu imóvel durante o
tempo da exposição. Pensa-se que será a primeira pessoa a ser
"fotografada".
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Daguerre - Paris Boulevard - 1839 |
O francês Hercules Florence, aplicou-se a uma série de invenções
durante os 55 anos em que viveu no Brasil até sua morte, na Vila de São Carlos
(Campinas).
Em 1830, diante de um pedido de uma oficina de impressões, inventou
seu próprio meio de impressão, a POLYGRAPHIE, como ele a chamou. Seguindo a
meta de um sistema de reprodução, pesquisou a possibilidade de se reproduzir
usando a luz do sol e descobriu um processo fotográfico que chamou de
PHOTOGRAPHIE, em 1832, como descreveu em seus diários da época, anos antes de
Daguerre. Em 1833, Florence fotografou através da câmara escura com uma chapa
de vidro e usou um papel sensibilizado para a impressão por contato.
Enfim, totalmente isolado e sem conhecimento do que realizavam seus
contemporâneos europeus Niépce, Daguerre e Talbot; Florence obteve ótimos resultados fotográficos.
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Um Talbotipo - Os Jogadores de xadrez, por Talbot |
Na Inglaterra, um descendente de família nobre, membro do parlamento
britânico, escritor e cientista aficionado, William Henry Fox Talbot, usava a
câmara escura para desenhos em suas viagens. Na intenção de fugir da patente do
daguerreótipo em seu país e solucionar suas limitações técnicas, pesquisava uma
forma de impressionar quimicamente o papel.
Talbot iniciou suas pesquisas fotográficas tentando obter cópias por
contato de silhuetas de folhas, plumas, rendas e outros objetos.
O papel era mergulhado em nitrato e cloreto de prata e depois de
seco fazia seu contato com os objetos, obtendo-se uma silhueta escura.
Finalmente, o papel era fixado, de modo imperfeito, com amoníaco, ou com uma
solução concentrada de sal. Às vezes, também era usado o idodeto de potássio.
No ano de 1835, Talbot construiu uma pequena câmara de madeira, com
somente 6,30 cm2, que sua esposa chamava de "ratoeira". A câmara foi
carregada com papel de cloreto de prata e, de acordo com a objetiva utilizada,
era necessária de meia a uma hora de exposição. A imagem negativa era fixada em
sal de cozinha e submetida a um contato com outro papel sensível. Desse modo, a
cópia apresentava-se positiva, sem a inversão lateral. A mais conhecida nos
mostra a janela da biblioteca da abadia de Locock Abbey, considerada a primeira
fotografia obtida pelo processo negativo/positivo.
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1835 - impressão da "janela abadia de Locock Abbey" feita a partir do negativo (abaixo)
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Negativo produzido por Talbot |
As imagens de Talbot eram bastante pobres, devido ao seu reduzido
tamanho de 2,5 cm2, se comparadas com a Heliografia de Nièpce, de 20,3 x 60,5
cm, obtida nove anos antes. Sua lentidão, seu tamanho, e sua incapacidade de
registrar detalhes não causavam interesse ao público, em comparação aos
daguerreótipos.
Em 1839, quando chegaram à Inglaterra os rumores do invento de
Daguerre, Talbot tinha aprimorado suas pesquisas e precipitadamente publicou
seu trabalho e o apresentou à Royal Institution e à Royal Society. Sir Herchel
logo concluiu que o Tiossulfato de sódio seria um fixador eficaz e sugeriu os
termos: FOTOGRAFIA, NEGATIVO E POSITIVO.
Um ano depois, o material sensível foi substituído por iodeto de
prata, sendo submetido, após a exposição, a uma revelação com ácido gálico. Mas
para as cópias continuou a usar o papel de cloreto de prata. O processo, que
inicialmente foi batizado de CALOTIPIA, ficou conhecido como TALBOTIPIA e foi
patenteado na Inglaterra em 1841. Talbot comprou uma casa em Reading, contratou
uma equipe para produzir cópias, fotografou várias paisagens turísticas e
comercializava as cópias em quiosques e tendas artísticas em toda a
Grã-Bratanha.
"THE PENCIL OF NATURE", o primeiro livro do mundo
ilustrado com fotografias, foi publicado por Talbot em 1844. O livro foi
editado em seis grandes volumes com um total de 24 talbotipos originais e
continha a explicação detalhada de seus trabalhos, estabelecendo certos padrões
de qualidade para a imagem.
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"THE PENCIL OF NATURE" - William Henry Fox Talbot |
Como o negativo da talbotipia não era constituído de um papel de boa
qualidade como base de sensibilização, na passagem para o positivo se perdiam
muitos detalhes devido à fibrosidade do papel. Muitos fotógrafos pensavam em
melhorar a qualidade da cópia, utilizando como base o vidro.
A dificuldade em usar o vidro como base do negativo era a de se
encontrar algo que contivesse, numa massa uniforme, os sais de prata sensíveis
à luz, para que não se dissolvessem durante a revelação.
Abel Niépce de Saint-Victor, primo de Nicéphore Niépce, descobriu em
1847 que a clara do ovo, ou a albumina, era uma solução adequada no caso de
iodeto de prata. Uma placa de vidro era coberta com clara de ovo, sensibilizada
com iodeto de potássio, submetida a uma solução ácida de nitrato de prata,
revelada com ácido gálico e finalmente fixada no tiossulfato de sódio.
O método da albumina proporcionava uma grande precisão de detalhes
mas requeria uma exposição de 15 minutos aproximadamente. Sua preparação era
bastante complexa e as placas podiam ser guardadas durante 15 dias.
O ano de 1851 foi muito significativo para a fotografia. Na França,
morreu Daguerre. Na Grã-Bretanha, como fruto da Revolução Industrial, foi
organizada a "Grande Exposição", apresentando os últimos modelos
produzidos.
Um invento que em pouco tempo chegou a suplantar todos os métodos
existentes foi o processo do COLÓDIO ÚMIDO, de Frederick Scott Archer,
publicado no "The Chemist" em seu número de março. Esse obscuro
escultor londrino, com grande interesse pela fotografia, não estava satisfeito
com a qualidade da imagem, deteriorada pela textura fibrosa dos papéis
negativos, e sugeriu uma mistura de algodão de pólvora e éter, chamada colódio,
como um meio de unir os sais de prata nas placas de vidro. O processo consistia
em:
a) Espalhar cuidadosamente o colódio com iodeto de potássio sobre o
vidro, escorrendo até formar uma superfície uniforme.
b) No quarto escuro, com luz alaranjada, a placa era submetida a um
banho de nitrato de prata.
c) A placa era exposta na câmara escura ainda úmida, porque a
sensibilidade diminuía rapidamente à medida que o colódio secava. O tempo médio
de exposição ao sol era de 30 segundos.
d) Antes que o éter, que se evaporava rapidamente, secasse, tornando-se
impermeável, revelava-se com ácido pirogálico ou com sulfato ferroso.
e) A fixagem era feita com tiossulfato de sódio ou com cianeto de
potássio (venenoso), e finalmente lavava-se bem o negativo.
O colódio, além de muito transparente, permitia uma concentração de
sais de prata, fazendo com que as placas fossem 10 vezes mais sensíveis que as
de albumina. Seu único inconveniente era a necessidade de sensibilizar, expor e
revelar a chapa num curto espaço de tempo. Como Archer não teve interesse em patentear
seu processo, morrendo na miséria e quase desconhecido, os fotógrafos ingleses
podiam pela primeira vez praticar a fotografia sem preocupação com problemas legais (patente).
Talbot, acreditando que sua patente cobria o processo colódio, levou
ao tribunal um fotógrafo que utilizava a placa úmida em Oxford Street. O juiz
pôs em dúvida o direito de Talbot de reclamar da invenção do colódio e os
jurados decidiram que esta não infringia sua patente. Então a fotografia estava
livre, pois além disso a patente de Daguerre havia expirado em 1853. A fotografia
agora tinha condições de crescer em popularidade e a quantidade de aplicações
do colódio cresceu durante 30 anos. O número de retratistas aumentou
consideravelmente, pessoas de todas as classes sociais desejavam retratos e se
estendeu o uso de uma adaptação barata do processo colódio chamada AMBROTIPO.
A variante Ambrotipia, elaborada por Archer com a coloração de Peter
Wickens Fry, consistia em um positivo direto obtido com a chapa de colódio.
Branqueava-se um negativo de colódio sub-exposto, escurecia-se o dorso com um
tecido preto ou um verniz escuro, dando assim a impressão de um positivo.
Quando um negativo é colocado sobre um fundo escuro com o lado da emulsão para
cima, surge uma imagem positiva graças à grande reflexão de luz da prata
metálica. Dessa maneira o negativo não podia mais ser copiado, mas representava
uma economia de tempo e dinheiro, pois se eliminava as etapas de obtenção da
cópia. O nome Ambrótipo foi sugerido por Marcos A. Root, um daguerrotipista da
Filadélfia, sendo também usado este nome na Inglaterra. Na Europa era
geralmente chamado Melainotipo. Os retratos pequenos, feitos através deste
processo, foram muito difundidos nos anos cinqüenta até serem superados pela moda
das fotografias tipo "carte-de-visite".
Outra variação do processo colódio, o chamado Ferrótipo, ou Tintipo,
produzia uma fotografia acabada em menos tempo que o Ambrótipo. Há divergências
entre autores quanto ao criador do processo; para uns, o Ferrótipo foi
elaborado por Adolphe Alexandre Martin, um mestre francês, em 1853. Para
outros, foi Hanníbal L. Smith, um professor de química da universidade de
Kenyon, quem introduziu o processo. Este processo era constituído por um
negativo de chapa úmida de colódio com um fundo escuro para a formação do
positivo. Mas, ao invés de usar verniz ou um pano escuro, era utilizada uma
folha de metal esmaltada de preto ou marrom escuro, como suporte do colódio. O
baixo custo era devido aos materiais empregados e sua rapidez decorria das
novas soluções de processamento químico.
O Ferrótipo desfrutou de grande popularidade entre os fotógrafos nos
Estados Unidos a partir de 1860, quando começaram a aparecer os especialistas
fazendo fotos de crianças em praças públicas, famílias em piqueniques e recém
casados em porta de igrejas.
O inconveniente de todos os processos por colódio era a utilização
obrigatória de placas ainda úmidas. Idealizou-se várias maneiras de conservar o
colódio em estado pegajoso e sensível durante dias e semanas, de forma que toda
manipulação química pudesse ser realizada no laboratório do fotógrafo em sua
casa, mas logo apareceu um processo "seco" que substituiu rapidamente
o colódio: a gelatina.
Em setembro de 1871, um médico e microscopista Inglês, Richard Lear
Maddox, publicou no British Journal of Photography suas experiências com uma
emulsão de gelatina e brometo de prata como substituto para o colódio. O
resultado era uma chapa 180 vezes mais lenta que o processo úmido, mas com o
novo processo aperfeiçoado e acelerado por John Burgess, Richard Kennett e
Charles Benett, a placa seca de gelatina estabelecia a era moderna do material
fotográfico fabricado comercialmente, liberando o fotógrafo da necessidade de
preparar as suas placas. Rapidamente várias firmas passaram a fabricar placas
de gelatina seca em quantidades industriais.
Burgess comercializou a emulsão de brometo de prata e gelatina
engarrafada, mas os resultados não foram satisfatórios devido à presença de
sub-produtos tais como nitrato de potássio. Em 1873, Kennett vendia emulsões
secas e placas preparadas com bastante sensibilidade à luz. Em 1878, Bennett
publicou que conservando a emulsão a 32oC de quatro a sete dias, se produzia
uma "maturação" que aumentava a sensibilidade.
Fabricantes britânicos como a Wratten & Wainwrigth e The
Liverpool Dry Plate Co., em 1880, monopolizaram a fabricação de placas secas.
Logo fábricas em todos os países passaram a imitá-los, até que em 1883 quase
nenhum fotógrafo usava o material colódio.
Em abril de 1880, George Eastman alugou o terceiro andar de um
edifício de Rochester e começou a fabricar placas secas para venda. Nascia ali
a Kodak.
Eastman se dedicou ao desenvolvimento de novos produtos para
simplificar a fotografia. Procurava encontrar uma base mais leve e flexível que
o vidro. Primero usou papel para o suporte da emulsão; o rolo de papel estava
protegido em um "porta-rolo" e se usava nas câmaras da mesma forma
como as "porta-placas" de vidro.
Em 1885 anunciava que estava introduzindo uma nova película sensível
que seria um substituto econômico e conveniente para as placas de vidro, tanto
para tomadas internas quanto externas. Apesar do sistema de porta-rolos ser
adequado e ter um êxito inicial, o papel não era inteiramente satisfatório como
suporte da emulsão porque a granulação do papel se reproduzia na cópia.
Eastman substituiu o papel pela película de colódio mas não
conseguiu fabricar uma que fosse suficientemente forte para sustentar a
emulsão. Então decidiu cobrir o papel com uma camada de galatina comum solúvel
e em seguida com outra insolúvel, sensível à luz. Depois de exposta e revelada,
a gelatina com a imagem se soltava do papel, se transferia a uma folha de
gelatina clara e se envernizava como colódio.
Para chegar ao público, Eastman decidiu fabricar um novo tipo de
câmara. Esta, introduzida em 1888, foi a primeira câmara Kodak. Era do tipo
"caixão", leve e pequena, carregada com um rolo de papel para 100
exposições. O preço da câmara carregada, estojo e correia era de 25 dólares.
Uma vez feita a exposição, se enviava a câmara a Rochester, onde o rolo exposto
era retirado, processado, feitas as cópias e colocado um novo rolo, tudo por 10
dólares. Isto foi uma mudança radical na política da empresa.
A câmara Kodak havia criado um mercado completamente novo e
transformado em fotógrafos aqueles que só queriam tirar fotos e não tinham
nenhum conhecimento da matéria. Qualquer um podia "apertar o botão" e
a companhia do Sr. Eastman "fazia o resto".
Em agosto de 1889 saíram para venda os primeiros rolos de película
transparente. No início era fabricada estendendo uma solução de nitrocelulose
sobre uma mesa de vidro de 66 metros de comprimento e 1.06 metros de largura.
Uma vez seca, se cobria com substrato de silicato de soda para reter a emulsão
e logo se revestia com uma emulsão de gelatina. A nova película era
transparente e sem grandes granulações e podia servir de base permanente para a
imagem negativa, evitando-se a descolagem. Além disso, era possível produzi-la
em tiras de 66 metros de comprimento. Esta película transparente e flexível de
Eastman, junto com o aparelho desenhado simultaneamente por Edison, asseguraram
o êxito da cinematografia.
Em 1891 se melhorou ainda mais a película transparente para amadores
ao colocá-la em carretéis que podiam ser colocados na câmara em plena luz do
dia. A câmara não precisava mais ser enviada a Rochester para ser recarregada e
os rolos de filme podiam ser comprados praticamente em qualquer lugar.
As câmaras para a nova película se simplificaram ainda mais. A
câmara Kodak dobrável, de bolso, foi lançado no mercado em 1898; um fole
permitia que se recolhesse a lente. Em 1900 apareceu a primeira câmara Brownie,
para crianças, ao preço de um dólar.
O desenvolvimento da fotografia com rolos de película criou uma
situação muito diferente daquela até então existente. Antes da aparição das
câmaras Kodak e Brownie, o fotógrafo devia ter certa habilidade manual, pois
devia processar seus próprios negativos e fazer as impressões e, por
conseguinte, estava interessado nos aspectos técnicos. Os novos fotógrafos
usavam câmaras simples, para filmes em rolo, sem ter que preocupar com a
técnica fotográfica ou com o mecanismo dos equipamentos. Só tinham que
fotografar os motivos de seu agrado. A fabricação de filme se converteu em uma
operação industrial e o fotoacabamento era feito por milhares de pequenos
laboratórios que revelavam o filme e faziam as cópias para os fotógrafos.