História da Fotografia – Parte I - "Período Prénikoniano"
A Câmera Escura
Desde
a antiguidade o ser humano interessou-se pelos fenómenos e efeitos da luz na
visão. Na China, no séc. V a.c., Mo Ti observou que os raios luminosos,
refletidos por um objeto iluminado, passando através de um pequeno buraco de
uma caixa escura, davam desse objeto uma imagem invertida mas exata (câmara
escura).
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Modelo de "Câmara Escura" |
Da mesma forma Aristóteles descreveu o princípio da câmara escura. No séc. X, um sábio árabe,
Ibn Al-Haitham constatou que a imagem formada em câmara escura era tanto mais
nítida quanto a abertura do "projetor" fosse menor. Pelo contrário, a
imagem esvaía-se quando se aumentava a abertura para deixar passar mais luz.
Fenómenos semelhantes foram descritos por Roger Bacon, no séc. XIII, e pelo
físico holandês Reinerius Gemma-Frisius, no séc. XVI, autor da primeira
ilustração conhecida de uma câmara escura.
O primeiro documento
histórico do uso da câmara escura data de 1558, na obra Magiae Naturalis
do napolitano Giovanni Battista Della Porta, que contém detalhes sobre a sua
construção e uso, assim como descrições que provam que o dispositivo era bem
conhecido pelos sábios, ilusionistas e artistas da época. Estes usaram-na a
partir do Renascimento, com o advento da perspectiva. A câmara escura era
literalmente um quarto escuro, que deixava passar a luz por um buraco feito
numa parede, estando esta parede paralela a uma outra ou a um plano sobre o
qual a imagem projetada aparecia em cores naturais.
A câmara escura
teve porventura um papel extremamente importante na pintura a partir do
Renascimento. Leonardo da Vinci e Vitrúvio descreveram-na e pensa-se que
esta foi muito usada quer por Leonardo, quer por outros pintores renascentistas
para a formação da imagem como auxiliar do desenho e da pintura.
Alguns, na tentativa de
melhorar a qualidade da imagem projetada, diminuíam o tamanho do orifício, mas
a imagem escurecia proporcionalmente, tornando-se quase impossível ao artista
identificá-la.
Este problema foi
resolvido em 1550 pelo físico milanês Girolamo Cardano, que sugeriu o uso de
uma lente biconvexa junto ao orifício, permitindo desse modo aumentá-lo, para
se obter uma imagem clara sem perder a nitidez.
Isto foi possível graças
à capacidade de refração do vidro, que tornava convergentes os raios luminosos
refletidos pelo objeto. Assim, a lente fazia com que a cada ponto luminoso do
objeto correspondesse um pequeno ponto de imagem, formando-se assim, ponto por
ponto da luz refletida do objeto, uma imagem puntiforme.
Desse modo, o uso da
câmara escura se difundiu entre os artistas e intelectuais da época, que logo
perceberam a impossibilidade de se obter nitidamente a imagem, quando os
objetos captados pelo visor estivessem a diferentes distâncias da lente. Ou se
focalizava o objeto mais próximo, variando a distância da lente / visor (foco),
deixando todo o mais distante desfocado, ou vice-versa. Danielo Brabaro, em
1568, no seu livro "A prática da perspectiva" mencionava que variando
o diâmetro do orifício, era possível melhorar a nitidez da imagem. Assim, outro
aprimoramento na câmara escura apareceu: foi instalado um sistema, junto com a
lente, que permitia aumentar e diminuir o orifício. Este foi o primeiro "diafragma".
Quanto mais fechado o
orifício, maior era a possibilidade de focalizar dois objetos a distâncias
diferentes da lente.
Nesta altura, já
tínhamos condições de formar uma imagem satisfatoriamente controlável na câmara
escura, mas gravar essa imagem diretamente sobre o papel sem intermédio do
artista era a nova meta, só alcançada mais tarde com o desenvolvimento da
química.
Entre os sécs. XVII e XIX a câmara escura não
parou de evoluir. Lentes com mais qualidade definiam melhor a imagem, espelhos
corrigiam a sua inversão e projetavam-na sobre superfícies melhor adaptadas ao
desenho. Ainda no séc. XVII o alemão Athanasius Kircher projetou um tipo
especial de câmara escura portátil, em forma de tenda desmontável, muita usada
pelos artistas para desenho de paisagem.
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A. Kircher - Grande Câmara Escura Portátil - 1646 - Gravura |
A "Câmera
Lucida", inventada em 1807 por William Wollaston, combinava um prisma e
uma lente sobre um suporte, o que permitia ao desenhador ver o objeto
pretendido em sobreposição no papel de desenho, o que lhe facilitava a
transcrição.
O pintor holandês do
séc. XVII, Jan Vermeer, autor de belas, precisas e enigmáticas pinturas, foi um dos artistas que (supostamente) melhor utilizou
"Câmera Lucida".
JohannesVermeer - O Astrônomo (1668)
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