domingo, 18 de setembro de 2011


História da Fotografia – Parte I - "Período Prénikoniano"




A Câmera Escura

         Desde a antiguidade o ser humano interessou-se pelos fenómenos e efeitos da luz na visão. Na China, no séc. V a.c., Mo Ti observou que os raios luminosos, refletidos por um objeto iluminado, passando através de um pequeno buraco de uma caixa escura, davam desse objeto uma imagem invertida mas exata (câmara escura).
   
Modelo de "Câmara Escura"

         Da mesma forma Aristóteles descreveu o princípio da câmara escura. No séc. X, um sábio árabe, Ibn Al-Haitham constatou que a imagem formada em câmara escura era tanto mais nítida quanto a abertura do "projetor" fosse menor. Pelo contrário, a imagem esvaía-se quando se aumentava a abertura para deixar passar mais luz. Fenómenos semelhantes foram descritos por Roger Bacon, no séc. XIII, e pelo físico holandês Reinerius Gemma-Frisius, no séc. XVI, autor da primeira ilustração conhecida de uma câmara escura.

O primeiro documento histórico do uso da câmara escura data de 1558, na obra Magiae Naturalis  do napolitano Giovanni Battista Della Porta, que contém detalhes sobre a sua construção e uso, assim como descrições que provam que o dispositivo era bem conhecido pelos sábios, ilusionistas e artistas da época. Estes usaram-na a partir do Renascimento, com o advento da perspectiva. A câmara escura era literalmente um quarto escuro, que deixava passar a luz por um buraco feito numa parede, estando esta parede paralela a uma outra ou a um plano sobre o qual a imagem projetada aparecia em cores naturais.

Stefano Della Bella - Câmara escura com vista de Florença - desenho a tinta

A câmara escura  teve porventura um papel extremamente importante na pintura a partir do Renascimento. Leonardo da VinciVitrúvio descreveram-na e pensa-se que esta foi muito usada quer por Leonardo, quer por outros pintores renascentistas para a formação da imagem como auxiliar do desenho e da pintura.
  
Alguns, na tentativa de melhorar a qualidade da imagem projetada, diminuíam o tamanho do orifício, mas a imagem escurecia proporcionalmente, tornando-se quase impossível ao artista identificá-la.

Este problema foi resolvido em 1550 pelo físico milanês Girolamo Cardano, que sugeriu o uso de uma lente biconvexa junto ao orifício, permitindo desse modo aumentá-lo, para se obter uma imagem clara sem perder a nitidez.

Isto foi possível graças à capacidade de refração do vidro, que tornava convergentes os raios luminosos refletidos pelo objeto. Assim, a lente fazia com que a cada ponto luminoso do objeto correspondesse um pequeno ponto de imagem, formando-se assim, ponto por ponto da luz refletida do objeto, uma imagem puntiforme.

Lentes Biconvexa

Desse modo, o uso da câmara escura se difundiu entre os artistas e intelectuais da época, que logo perceberam a impossibilidade de se obter nitidamente a imagem, quando os objetos captados pelo visor estivessem a diferentes distâncias da lente. Ou se focalizava o objeto mais próximo, variando a distância da lente / visor (foco), deixando todo o mais distante desfocado, ou vice-versa. Danielo Brabaro, em 1568, no seu livro "A prática da perspectiva" mencionava que variando o diâmetro do orifício, era possível melhorar a nitidez da imagem. Assim, outro aprimoramento na câmara escura apareceu: foi instalado um sistema, junto com a lente, que permitia aumentar e diminuir o orifício. Este foi o primeiro "diafragma".


Modelos dos primeiros diafragmas

           
Quanto mais fechado o orifício, maior era a possibilidade de focalizar dois objetos a distâncias diferentes da lente.

Nesta altura, já tínhamos condições de formar uma imagem satisfatoriamente controlável na câmara escura, mas gravar essa imagem diretamente sobre o papel sem intermédio do artista era a nova meta, só alcançada mais tarde com o desenvolvimento da química.

         Entre os sécs. XVII e XIX a câmara escura não parou de evoluir. Lentes com mais qualidade definiam melhor a imagem, espelhos corrigiam a sua inversão e projetavam-na sobre superfícies melhor adaptadas ao desenho. Ainda no séc. XVII o alemão Athanasius Kircher projetou um tipo especial de câmara escura portátil, em forma de tenda desmontável, muita usada pelos artistas para desenho de paisagem.

A. Kircher - Grande Câmara Escura Portátil - 1646 - Gravura

A "Câmera Lucida", inventada em 1807 por William Wollaston, combinava um prisma e uma lente sobre um suporte, o que permitia ao desenhador ver o objeto pretendido em sobreposição no papel de desenho, o que lhe facilitava a transcrição.

Câmera Lucida

O pintor holandês do séc. XVII, Jan Vermeer, autor de belas, precisas e enigmáticas pinturas, foi um dos artistas que (supostamente)  melhor utilizou "Câmera Lucida".


JohannesVermeer - O Astrônomo (1668)

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